Caught by the Tides, de Jia Zhangke, pode ser um filme de ficção (o seu primeiro desde Les Eternels, de 2018), mas tem todos os ingredientes de um documentário. Apresentado na Competição Oficial do Festival de Cannes, o novo filme do mestre chinês analisa a globalização frenética do seu país no início dos anos 2000. Para isso, o cineasta pegou em extractos dos seus filmes anteriores, misturando-os com uma grande quantidade de imagens de arquivo e novas filmagens - para a última e mais recente parte do filme.
Mas Caught by the Tides não é apenas para os habituais de Jia Zhangke, e muitos serão tocados pela história da relação amorosa falhada entre Qiao Qiao(Zhao Tao, a atriz preferida do realizador, que é também a sua mulher) e Guao Bin(Zhubin Li, que reencontrou Jia Zhang-Ke depois do excelente A Touch of Sin). Quando Guao Bin a deixa para tentar a sorte noutra província, Qiao Qiao embarca numa viagem através da China para encontrar o seu amor perdido, de norte a sul de um país em plena mudança.
Quase sem diálogos, mas intercalado com numerosos momentos musicais (as canções tradicionais dos trabalhadores, as sequências de karaoke ao som de Eurodance), o filme apresenta ahistória recente da China em três grandes actos. Começa em 2001 na aldeia mineira de Datong, continua na cidade de Fengjie em 2006 e regressa a Datong durante a crise sanitária da Covid. Cada período é representado por um formato de imagem e uma qualidade gráfica diferentes, oferecendo uma visão contrastante e poética do país que Jia Zhangke continua a explorar ano após ano.
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