O mestre do cinema espanhol Pedro Almodóvar regressa com The Next Room, um drama pungente protagonizado por duas grandes actrizes, Julianne Moore e Tilda Swinton. O realizador, conhecido pelas suas obras emocionalmente ricas como Tudo sobre a minha mãe e La Mauvaise éducation, adapta desta vez o romance What Are You Going Through de Sigrid Nunez. O filme explora a complexa relação entre duas mulheres que são amigas há muitos anos e que se reencontram depois de anos separadas. Com um elenco impressionante que inclui também John Turturro e Alessandro Nivola, The Next Room promete ser uma reflexão intensa sobre as relações humanas, mantendo o toque visual único de Almodóvar.
La Chambre d'à Côté será exibido nos cinemas a partir de 8 de janeiro de 2025.
Sinopse: Ingrid e Martha, amigas de longa data, começaram suas carreiras trabalhando para a mesma revista. Quando Ingrid se torna uma romancista de sucesso e Martha uma repórter de guerra, os seus caminhos divergem. Mas anos mais tarde, os seus caminhos voltam a cruzar-se em circunstâncias preocupantes...
O último filme de Pedro Almodóvar, O Quartoao Lado , marca uma etapa ambiciosa na carreira do realizador espanhol. Galardoado com o Leão de Ouro no Festival de Veneza de 2024, este drama explora temas universais como a amizade, a doença e o direito a morrer com dignidade. Protagonizado por dois ícones do cinema, Tilda Swinton e Julianne Moore, o filme segue a linha intimista de Almodóvar, com um toque teatral muito debatido. Embora o filme tenha sido elogiado pelos seus desempenhos e pela sua estética cuidada, algumas das suas escolhas narrativas e formais deixaram alguns espectadores a desejar mais.
Martha(Tilda Swinton), uma repórter de guerra que sofre de cancro terminal, reencontra a sua amiga de longa data, Ingrid(Julianne Moore), uma romancista especializada em autobiografias. Ingrid é uma mulher assombrada pelo seu medo visceral da morte, que explora no seu último livro. Paradoxalmente, é Ingrid, tão mal preparada para enfrentar o fim da vida, que aceita acompanhar Martha nos seus últimos momentos. Esta dinâmica, marcada pela apreensão, relutância, mas sobretudo por um amor profundo, constitui o coração emocional do filme.
Do ponto de vista visual, Pedro Almodóvar realiza uma obra de grande riqueza. O apartamento de Martha, banhado de luz, é decorado com telas coloridas que lembram as obras de mestres contemporâneos. Estes toques vibrantes contrastam com o apartamento de Ingrid, decorado com móveis antigos encontrados em feiras da ladra, demonstrando o seu gosto por objectos que contam histórias. Finalmente, o clímax do filme tem lugar numa magnífica casa isolada no meio da natureza, onde Martha escolhe pôr fim à sua vida. A casa, com o seu enorme terraço e espreguiçadeiras com vista para uma floresta relaxante, torna-se um lugar de tranquilidade e introspeção, realçado por uma direção de arte meticulosa.
Tilda Swinton e Julianne Moore têm desempenhos tecnicamente impecáveis, mas a sua atuação parece por vezes demasiado distante. Embora as suas personagens passem por situações de partir o coração, uma certa frieza emocional impede o espetador de sentir plenamente a sua dor. O diálogo é muitas vezes exagerado e as actrizes falam diretamente para a câmara, quebrando a quarta parede num processo que desestabiliza mais do que toca.
Esta narração explicativa enfraquece o impacto emocional. As personagens recordam o seu passado comum contando acontecimentos que viveram em conjunto, o que dá a impressão de que estão a falar mais para o público do que para elas próprias. Esta escolha, embora justificável do ponto de vista teatral, dificulta a imersão e limita a empatia sentida pelos seus dilemas.
Frases fortes como "Os moribundos devem ter o direito de morrer com dignidade" e "O mundo é absurdo e desumano" soam mais a declarações teatrais do que a momentos de diálogo autêntico. Esta abordagem, embora ousada, contribui para a impressão de que a encenação é um pouco intelectualizada demais.
O tema da eutanásia e do direito a morrer com dignidade continua tão atual como sempre. Pedro Almodóvar trata esta questão com sinceridade, mas adopta por vezes um prisma nostálgico que colide com a atualidade candente do debate. Certas cenas, como aquela em que Martha conta ter adquirido uma cápsula de eutanásia na dark web a um matemático, roçam o absurdo e enfraquecem a credibilidade do enredo. Estes pormenores mancham uma história que teria merecido uma abordagem mais fundamentada.
Este filme agradará sobretudo aos amantes do cinema de autor, sensíveis aos temas existenciais e às reflexões íntimas sobre a amizade e a morte. Os espectadores que apreciam obras introspectivas, onde a emoção nasce dos silêncios e dos olhares, também encontrarão algo do seu agrado. Quem gosta do trabalho de Pedro Almodóvar, com a sua direção artística impecável e os seus diálogos bem talhados, será seduzido por este mergulho na intimidade de duas mulheres confrontadas com o inescapável. No entanto, os espectadores que procuram uma narrativa fluida ou uma emoção crua podem ser desencorajados pelo aspeto teatral e distanciado do filme.
Em suma, O Quarto ao Lado é um filme que divide opiniões. Enquanto Pedro Almodóvar demonstra mais uma vez o seu domínio dos códigos visuais e a sua capacidade de abordar temas universais, o filme sofre de excessiva teatralidade e de diálogos que soam a vazio. Apesar das intenções louváveis e das actrizes de renome, a emoção não transparece, deixando o espetador admirado mas distante.
La Chambre d'à côté agradará aos fãs do cinema introspetivo, com a sua reflexão sobre questões éticas e a sua estética meticulosa. No entanto, a sua direção demasiado rígida e a sua falta de jeito narrativo correm o risco de alienar parte do seu público.
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