A História de Souleymane, de Boris Lojkine: a nossa opinião e o trailer

Dez anos depois de ter apresentado Hope, o seu primeiro filme de ficção na Semaine de la critique, que ganhou o prémio SACD, o realizador francês Boris Lojkine voltou à Croisette com o seu novo filme L'Histoire de Souleymane, selecionado na secção Un Certain Regard do Festival de Cannes 2024 , onde ganhou os prémios do Júri e de Melhor Ator.

Na encruzilhada de destinos trágicos, o filme conta dois dias na vida de Souleymane (Abou Sangare), um entregador guineense de bicicleta que se prepara para a sua entrevista de asilo, a chave para obter documentos que lhe permitam permanecer em França. Enquanto pedala incansavelmente pelas ruas de Paris, entregando refeições, Souleymane repete uma história que não é a sua (dizem-lhe que tem de se declararopositor político para lhe ser concedido asilo), mas ele não está preparado.

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Num estilo ultra-naturalista, próximo do documentário, Boris Lojkine centra-se nas pessoas que não vemos, apesar de passarmos por elas na rua todos os dias. Esses entregadores de bicicleta que percorrem as zonas abastadas da capital, penetrando apenas nos corredores dos edifícios, e que ninguém olha nos olhos quando vão buscar a sua encomenda.

O percurso de Souleymane é cheio de armadilhas e prossegue depois de atravessar a fronteira com França, no final de uma viagem que põe em risco a sua vida. O realizador detalha tudo o que se passa no quotidiano de Souleymane: a galopada para apanhar o metro, o RER e o autocarro que o leva a um centro de acolhimento, os telefonemas para o 115 assim que acorda para se certificar de que tem um lugar quente para ficar nessa noite, a perversão de alguns dos clientes - é difícil não pensar que algumas destas interações poderiam ser filmadas em câmaras ocultas - e o terror da polícia...

Mas talvez o mais difícil seja a desumanidade que as minorias demonstram umas para com as outras, quando se trata de explorar os seus vizinhos, subalugando uma conta em aplicações de entrega a um preço elevado e ganhando dinheiro com migrantes sem documentos. É uma série de situações miseráveis, mas apesar de tudo, Souleymane mantém a cabeça erguida, graças a uma interpretação magistral de Abou Sangare que é tão comovente porque é tão correta.

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