" O património africano deve ser apresentado em Paris, mas também em Dakar, Lagos e Cotonou. Esta será uma das minhas prioridades. Dentro de cinco anos, quero que estejam reunidas as condições para que o património africano regresse a África." Estas foram as palavras proferidas por Emmanuel Macron em 2017, e este foi o ponto de partida para Dahomey, o novo documentário de Mati Diop. Vencedor do prestigiado Urso de Ouro na última edição da Berlinale, o filme deverá chegar às salas de cinema francesas a 11 de setembro de 2024.
Em novembro de 2021, 26 tesouros reais do Daomé - de um total de 7.000 obras saqueadas - preparam-se para deixar Paris para serem repatriados. Do Museu do Quai Branly, no Benim, estas estátuas, objectos funerários e outros tronos saqueados durante ainvasão das tropas coloniais francesas em 1892 terão de encontrar o seu caminho e a sua voz para a sua terra natal. Mati Diop está lá para lhes dar voz.
Dahomey é tudo menos um simples documentário ou um filme institucional. O realizador franco-senegalês criou uma obra tão artística como o seu objeto de estudo, que se aproxima do fantástico. A obra 26, uma estátua do rei Ghézo, começa subitamente a pensar em voz alta e em voz-off, em Fon. E dá-nos um vislumbre da sua alma, revelando os seus pensamentos mais íntimos sobre a sua identidade e o seu futuro. É profundamente comovente.
Através de imagens altamente simbólicas para levantar estas questões (o encaixotamento das estátuas do Museu do Quai Branly como se fossem homens negros sem vida, vítimas do passado), o filme interroga-se sobre o lugar destas obras ancestrais na história de um país que, a torto e a direito, continuou a viver sem elas. Ou como uma nação reconstitui a sua memória através de relíquias, como tantas partes arrancadas de si mesma.
Se as questões daafrodescendência e do pós-colonialismo são obviamente centrais, o repatriamento e a reapropriação destes tesouros levantam muitas outras questões, as da autodeterminação de um povo, a exigência de reparações e até um questionamento mais profundo da política francesa em relação aos países africanos.
A nova geração de estudantes beninenses da Universidade de Abomey Calavi está entusiasmada e tenciona continuar a lutar. " Não seremos livres politicamente, espiritualmente ou economicamente enquanto as nossas obras não forem livres", afirmam.
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